Olá a todos !! Darei uma excepcional pausa no prometido conjunto de post sobre Resíduos Eletrônicos para postar um texto que fiz sobre o lamentável acidente ocorrido no Morro do Bumba no Rio de Janeiro... Em breve, irei postar o primeiro texto, conforme prometido. Até Breve !!
O Estado do Rio de Janeiro é mais belo do que aquele lixo que correu no desabamento no Morro do Bumba, em Niterói/RJ.
Uma tragédia anunciada; Uma tragédia com muitos culpados; Uma tragédia para expor as feridas e ineficiência da gestão brasileira de resíduos.
Porque, no fundo, sempre acreditamos que o nosso problema com o lixo doméstico se encerra com a sua deposição fora das nossas portas de casa, para, na calada da noite, um grupo de garis-mágicos, fazer desaparecer aqueles restos de coisas rejeitadas que queremos manter fora do alcance dos nossos olhos e nossos corações.
Uma pena que procuremos os culpados somente entre aqueles que governam o nosso país, o nosso Estado, o nosso município.
Não se trata de expiar a culpa legal daqueles que, por lei, deveriam impedir a construção de casas na região do antigo lixão. Tampouco eximir de apurar a culpabilidade daqueles que deveriam impedir a própria existência do lixão em cima daquele morro, contrariando as mais comezinhas normas de construção dessas infraestruturas de gestão de resíduos. O que deve ser levado em consideração é que aquilo tudo existia há mais de 50 anos e nada foi feito.
Afinal, toda aquela gente e todo aquele lixo estavam longe dos nossos olhos e nossos corações. O que, ao fim e ao cabo, se revela uma receita infalível para omissão pública, seja da sociedade civil organizada, seja dos gestores públicos.
É muito pouco colocar a culpa na ausência de uma Legislação Federal de gestão de resíduos. Não é pela falta de aprovação da Política Nacional de Resíduos Sólidos (que se arrasta a 19 anos no Congresso, nunca é demais lembrar) que seria evitada essa tragédia. O Estado do Rio de Janeiro já possui, desde 2003, uma lei estadual que regula esse setor (lei estadual n 4191/2003) no entanto o desmoronamento ocorreu mesmo assim.
Mais uma vez, procuramos soluções mágicas para o problema da gestão dos resíduos. Assim como esperamos que toda noite que os garis-mágicos recolham nosso lixo doméstico, esperamos que os parlamentares-mágicos façam leis que impeçam tragédias como a do Morro do Bumba.
Procuramos soluções mágicas para problemas concretos e que, na verdade, necessitam de um mínimo de reflexão e, sobretudo, trabalho de todos nós (sociedade civil organizada; sociedade civil “desorganizada”; gestores públicos; setor empresarial; cidadãos; acadêmicos; etc).
O Rio de Janeiro, com certeza, é mais belo que o lixo que correu pelo morro do Bumba...
Mas, ninguém nunca pensou no que há para além do lixão do morro do Bumba. O lixo do Morro do Bumba – porque longe dos nossos olhos e nossos corações – não nos faz pensar em nada. Aqueles homens que estão ao pé do lixão do morro do Bumba continuam só... e continuarão, ainda, ao pé do lixão (se nada fizermos).
* Em referencia ao poema de Fernando Pessoa, “O Tejo é mais belo”